Hoje encontrei um texto bastante interessante (no blog da Grilinha) e que mostra uma visão de Portugal por parte de um estrangeiro... Ao dizer isto senti-me uma estrangeira, pois concordo com tudo o que é dito neste artigo do jornal "Pravda", da Federação Russa.
PORTUGAL: Pessimismo e pedofilia
São dois os principais problemas de Portugal: os poucos pessimistas profissionais que, passam a vida, a contaminar o resto da população, e uma governação inadequada, ineficiente, ineficaz e fora de contacto com a realidade do país. Que Portugal e os portugueses têm inegáveis qualidades, não hajam dúvidas. Não é por nada que Portugal é um país independente e a Catalunha, a Bretanha, a Escócia e a Bavária o não são. Não é por nada que o português é a sétima língua mais falada no mundo, à frente do alemão, do francês e do italiano. No entanto, estas qualidades precisam de ser cultivadas por quem foi eleito para liderar e dirigir o país. O que acontece é que, nem agora, nem por muito tempo, Portugal tem tido líderes dignos do seu povo, capazes de liderar a nação, realizar os projectos que foram escolhidos para realizar. O resultado é uma onda de pessimismo, no meio de um mar de desemprego, desinteresse e desorientação que serve de combustível para a economia emocional não funcionar, aquela economia que é tão importante quanto a economia das quotas de oferta e procura. A consequência é uma retracção não só da economia mas também do psique da sociedade, com uma introversão patológica a manifestar-se no escrutínio colectivo do umbigo nacional, ou um pouco mais abaixo.
A "não-história" da pedofilia, já uma psicose nacional, é um belíssimo exemplo de até onde pode chegar uma sociedade quando nem é orientada nem estimulada a pensar em horizontes mais saudáveis. Há mais de um ano, a imprensa portuguesa regurgita a história do abuso sexual de meninos do orfanato/escola Casa Pia, apontando nomes sonantes da vida pública que nem têm lugar aqui, visto que até ser provado ao contrário, uma pessoa numa sociedade civilizada, é considerado inocente.
A busca de quem foi ou quem não foi, deu origem ao levantamento na praça pública, de uma lista substancial de nomes do mundo artístico, desportivo, e político, aos mais altos níveis. Não é a causa do pessimismo em Portugal, mas espelho dele. A noção de que, "nós não prestamos, somos os coitadinhos da Europa e a alta sociedade é podre", ouvia-se nos finais dos anos 70, desapareceu e com a não governação do primeiro-ministro José Barroso, voltou. Está tangível, quanto mais para um estrangeiro que ama e estuda este país há 25 anos.
Outra manifestação deste pessimismo é a negatividade ao nível das conversas nos cafés (inaudíveis nos claustros de cristal onde pairam os governantes do país) à cerca de um evento que, a priori, é a melhor hipótese que Portugal alguma vez tem tido para se projectar na comunidade internacional? O Euro 2004.
O Euro 2004 é o ponto desportivo mais alto na história quase milenar de Portugal. É um dos três mais vistos eventos televisivos do mundo e é uma excelente oportunidade de enterrar, de vez, a falácia que Portugal é uma província espanhola. Mas o que é que acontece? Enquanto o resto da Europa se prepara com entusiasmo para o Campeonato da Europa em Futebol, ouve-se em Portugal, por todo o lado, que os estádios não estão preparados, ou que não são seguros, ou que os aeroportos não estão adequados, ou que vai haver problemas com o hooliganismo, ou com terrorismo. Disparate! Ou pior, uma vergonha, por quem perpetua este tipo de lixo que, por aí, se chame notícias.
Para começar, os estádios estão tão prontos que já se joga futebol neles. Segundo - as normas de segurança tem de obedecer a rigorosíssimas normas de controlo estipuladas pela inflexível UEFA. Terceiro - os aeroportos têm dos sistemas mais avançadas de controlo de tráfego aéreo, total e completamente integrados nos da União Europeia e mais, os adeptos não vão chegar todos no mesmo dia, nem todos de avião. Quarto - quando os bilhetes foram vendidos na Internet, foi consultada a base de dados proferida pelas forças policiais dos países presentes no Euro 2004. Quinto - Portugal é alguma vez um alvo para ataques terroristas, desde quando? Só se fossem as FP-25 de Abril. Porém, onde estão as autoridades a explicarem a verdade, a estimular a população, a instilar o optimismo, não só para o Euro 2004 mas, para galvanizar a economia, para liderar o país? Exactamente onde estiveram, estes ou outros, quando os interesses dos portugueses estavam a ser vendidos por um preço barato, o que levou gradualmente à situação actual em que uma família portuguesa gasta, substancialmente mais do seu ordenado em necessidades básicas do que no resto da Europa.
Não se admite que num supermercado espanhol, se encontrem, exactamente os mesmos produtos, bem mais baratos do que em Portugal, não se admite que no Reino Unido o cesto básico de alimentos custe bastante menos, quando se ganha cinco, seis ou sete vezes mais. Há duas semanas, vi três restaurantes no centro de Londres com o cartaz "Comam o que quiserem por £5.45 - 9 Euros, ou um pouco menos. Os portugueses gastam uma fatia tão grande do seu ordenado em mantimentos fundamentais que não há capital disponível para os serviços, restringindo a economia a um modelo básico e muito primário. Se bem que Portugal é um país pequeno, também o é a Bélgica, a Dinamarca, os Países Baixos, o Luxemburgo, a Suíça ou a Irlanda. Estes países têm um plano de médio e longo prazo e nestes países ganham os lugares de destaque pessoas competentes e devidamente qualificadas e formadas.
Em Portugal, o plano é ganhar as próximas eleições, ponto final. O que acontece depois? Há uma onda laranja (PSD - actual governo) ou cor-de-rosa (PS - governo anterior) a varrer o país e a ocupar todos os quadros altos e médios, seja em ministérios, em faculdades, em firmas, até em hospitais.
O grande plano é, quanto muito, de quatro anos, o que explica a pequenez de pensamento e a falta de visão personalizada por uma ministra das finanças que trata a economia do país como se fosse uma dona de casa maníaca, que, munida com uma tesoura gigante, tenta transformar um lençol de cama de casal numa bata para uma boneca diminuta? Corta, corta, corta. O resultado disso tudo é o que se vê: desempregados à espera do subsídio de desemprego durante largos meses, não semanas, sem receberem um tostão do governo que elegeram para os proteger.
Quão conveniente é, por isso, que o país fale de pedófilos e não da economia, do emprego, da falta de poder de liderança deste "governo" PSD/PP, da ausência dum cariz democrático, ou social, ou popular, da ausência de contacto ou de calor humano destes, que foram eleitos para proteger seus cidadãos!
O que fizeram? Absolutamente nada. Lamentaram que o país era um caos, e calaram-se. Então, onde estão as políticas de salvação? Portugal está, e por muito tempo tem sido, liderado por uma argamassa de cinzentos incompetentes que venderam os interesses do país, irresponsável e negligentemente, para fora.
Portugal precisa de quem tenha o brio e a chama suficientes para incendiar a paixão do povo deste país lindo, desta pérola do Atlântico, de ajudá-lo a ir ao encontro dos seus sonhos, acreditar em si, redescobrir as suas consideráveis qualidades e colocar Portugal num lugar de destaque entre a comunidade internacional.
O leitor pode apontar quem tenha feito isso nos últimos anos? O José Barroso está a fazê-lo? Caso contrário, se não se descobrir, e rapidamente, quem for competente para governar este país, os projectos audazes e brilhantes, que vão de mãos dadas com o espírito e a alma portuguesa, como por exemplo a EXPO 98, o Rock in Rio e o EURO 2004, todos com uma gestão excelente e uma preparação de que poucos países se poderiam gabar, perder-se-ão no mar da lamúria que assola Portugal.
Francamente, a paciência dos que, tanto lutaram, para fazer qualquer coisa deste rectângulo atlântico, começa a esgotar-se. Já que gostam de dizer que quem não está bem deve mudar-se... essa, começa a ser uma excelente ideia.
Timothy BANCROFT-HINCHEY - - - Director e Chefe de Redacção