Pensamentos Soltos
Porque a vida é feita de pensamentos... soltos...
19 de Março de 2004

Apesar de ter muita curiosidade em relação a este filme, ainda não tive oportunidade de o ir ver. De qualquer modo, aqui fica uma crítica escrita pelo meu amigo Carlos.
Assim que eu for ver o filme também deixarei aqui o meu comentário!

O incómodo desafio de um filme

Precedido por uma forte campanha mediática, acusado de anti-semita, reaccionário e sádico, “The Passion” de Mel Gibson, estreou nos Estados Unidos e noutros países com um êxito de bilheteira sem precedentes. Este facto em si, unido às reacções positivas de muitos críticos e espectadores, desactivou algumas das polémicas, muitas delas completamente demagógicas.
Em relação à qualidade cinematográfica, a crítica norte-americana divide-se: dominam as reprovações entre os ideólogos e abundam os comentários entusiastas entre os que se centram nos aspectos cinematográficos. Entre estes últimos encontram-se vários dos melhores críticos americanos, como Roger Ebert ou Jack Garner que dão ao filme a máxima pontuação. De facto, em www.critics.com – endereço de referência da crítica americana especializada –, o filme apresenta uma classificação média de quase 3 estrelas sobre um máximo de quatro.
O público votou na bilheteira enchendo as salas. Por outro lado não seria de estranhar este bom acolhimento do filme. Ao fim ao cabo, Mel Gibson é uma das estrelas mais populares e mais rentáveis de Hollywood. Além disso, é responsável, como realizador, por “O homem sem rosto” e “Braveheart”, este último vencedor de 5 óscares, incluindo os correspondentes ao Melhor Filme e Realização.
No âmbito artístico, o que mais se discute no filme de Mel Gibson é a extrema crueldade de muitas das cenas. Mel Gibson assegura que isto se deve sobretudo à sua fidelidade quase textual dos quatro evangelhos. E que também se inspira no livro “A dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo” que compila as gráficas revelações particulares sobre a morte de Jesus, da mística alemã Ana Catarina Emmerich (1774-1824).
Gibson assegura ainda que “não há nada de violência gratuita neste filme. (…) Acostumámo-nos a ver crucifixos bonitos pendurados nas paredes. Dizemos: - Oh, sim… Jesus foi açoitado, levou a cruz às costas e cravaram-no num madeiro, mas quem se detém a pensar no que estas palavras significam realmente? Perceber o que sofreu, inclusive ao nível humano, faz-me sentir não só compaixão mas também dívida”.
Há que realçar este desejo de veracidade por parte de Gibson, aliás em consonância com os escritores místicos que referencia. Nos seus escritos, muitos deles reflectiram sobre a Paixão com uma grande violência expressiva, precisamente porque estavam conscientes de que muitas vezes só nos movem as emoções fortes. E que dizer também da inspiração do Sudário de Turim, inquietante ícone que parece confirmar, com desconcertante crueza, a historicidade dos relatos evangélicos sobre a Paixão. E o próprio cineasta reconheceu o seu esforço por imitar no seu filme o estilo pictórico de Caravaggio, cujos quadros são famosos pelo naturalismo cru que emana dos contrastes entre luzes e sombras.
À margem da sua inspiração mística e pictórica, Gibson recorre também ao hiper realismo visual precisamente porque é o recurso habitual no cinema de hoje em dia, sobretudo nos dois géneros em que se enquadra o filme: o drama e o épico. Basta rever os candidatos aos óscares para encontrar filmes actuais que empregam dramaticamente – com mais ou menos acerto – uma grande violência visual: “O regresso do rei”, “Master and Commander”, “Mystic River”, “Cold Mountain”, “21 Grams”, “Monster”…
A verdadeira questão estética e moral é o sentido que dão esses realizadores ao recurso da violência. Este tema foi analisado com especial lucidez pelo escritor espanhol Juan Manuel de Prada (in ABC, 28-02-2004): “Paradoxalmente – em relação ao “The Passion” – a sua contemplação provoca incómodos numa época em que se encobre a exibição gratuita da violência como uma característica artística. Duvido muito que Gibson exceda em truculência a Tarantino ou a Kitano, tão idolatrados pelo gosto contemporâneo. Porque razão a violência enfática desses cineastas fascina, enquanto que a de Gibson provoca vestes rasgadas? Por uma razão evidente: porque não é gratuita, porque interpela o espectador, porque o obriga a enfrentar a dor no seu estado mais puro. Acostumámo-nos à violência banal, coreográfica, meramente esteticista que faz do hiper realismo uma forma sublime da irrealidade e não podemos suportar, pelo contrário, a violência catársica que estimula o nosso horror e a nossa piedade, que nos torna participantes de um sofrimento sobre-humano e nos ajuda a entender em toda a sua magnitude um sacrifício que mexe com a nossa capacidade de compreensão”.
Sobre esta posição, algumas vozes críticas reclamam uma visão de Cristo não tão radical, menos sofredora e mais conciliadora, identificando estes adjectivos como um despojamento do perfil conflituoso de Jesus. Não é nova esta pretensão, a cruz sempre foi um escândalo tanto nos tempos dos primeiros cristãos como agora.
Por outro lado, Gibson quis transcender esta violência com uma visão profundamente espiritual dos factos que descreve. “Realmente – disse –, quis expressar a magnitude do sacrifício, assim como o seu horror. Mas também quis um filme que tivesse momentos de verdadeiro sentimentalismo e beleza, e um verdadeiro sentimento de amor porque, no final de contas, é uma história de fé, esperança e amor”.

Carlos Tavares
publicado por Helena às 16:12 link do post
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Olá! Adorei ter chegado até aqui e poder te ler. M...
elogios para as fotos, lindo! Eu sempre vi a fotog...
Deve ter sido um espectáculo!Quero ver mais fotos
Um grande beijinho de parabéns pelo dia de hoje :)
Pode ser que sim :)Beijocas e boa sorte
Giro! :)
Yeeeee!!!
Obrigada amigo!
MUITOS PARABÉNS!
Temos que combinar um 10 pras 8 com,o compensação ...
Quero os meus royalties de direitos de autora lolo...
LOL estou
Paisagens lindas, lindas!
Estás-me a imitar? eheheheh
pois então.... parabéns!!!
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